Segue um trecho do livro de Eduardo Galeano "As Veias abertas da América Latina", sobre o Algodão:
Braço baratos para o algodão
"(...)No fim do século XVIII, o algodão havia se convertido na matéria prima mais importante dos viveiros industriais da Europa: a Inglaterra multiplicou por cinco, em trinta anos, suas compras desta fibra natural. O fuso que Arkwright inventou, ao mesmo tempo em que Watt patenteava sua máquina de vapor, e a posterior criação do tear mecânico de Cartwright impulsionaram com decisivo vigor a fabricação de tecidos e proporcionaram ao algodão, planta nativa da América, mercados ávidos de ultramar. O porto de São Luiz do Maranhão, que dormira uma longa sesta tropical apenas interrompida por raros navios durante o ano, foi bruscamente despertado pela euforia do algodão: os escravos negros afluiram às plantações do Norte do Brasil, e entre 150 e 200 navios partiam cada ano de São Luiz carregando um milhão de libras de matéria prima textil. Enquanto nascia o século XIX, a crise da economia mineira proporcionava ao algodão mão-de-obra escrava em abundância; esgotados o ouro e os diamantes do Sul, o Brasil parecia ressucitar no Norte. O porto floresceu, produziu poetas em medida suficiente para que o chamassem de Atenas do Brasil, mas a fome chegou, com a prosperidade, à região do Maranhão, onde ninguem cuidava de cultivar alimentos. Em alguns períodos, só houve arroz para comer. Esta história terminou como havia começado: o colapso chegou de súbito. A produção do algodão em grande escala nas plantações do sul dos Estados Unidos, com terras de melhor qualidade e emios mecânicos para desencaroçar e enfardar o produto, abateu os preços à terça parte e o Brasil ficou fora da concorrência".
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